Os 4 critérios de uma boa tradução ou o cânone da tradução
Um cânone é um instrumento de medida com um conjunto de regras ou modelos sobre um determinado assunto. Por exemplo, existe o conhecido Cânone Literário de Harold Bloom, que consiste num compêndio das que são consideradas as maiores obras de mérito artístico.
Não existe cânone para a tradução (embora eu a considere uma forma de arte), mas há, todavia, uma série de citérios que determinam a qualidade de uma tradução.
Hoje, partilho aqueles que são, para mim, critérios determinantes. Os 4 critérios de uma boa tradução
1. Inexistência de erros formais
A ortografia e a gramática de um texto traduzido têm de ser irrepreensíveis. O tradutor é um linguista e um mediador intercultural; tem, por isso, a obrigação de escrever com a máxima correção.
Essa correção inclui, entre outros aspetos, o respeito pelas convenções linguísticas de cada língua:
- O uso de aspas diferenciadas;
- O uso de ponto ou vírgula para marcar a casa decimal;
- O espaço deixado – ou não – antes de alguma pontuação ou no início de frases, etc..
2. Respeito pelo estilo e pela mensagem do autor
A mensagem de um autor é também definida pelo uso de palavras específicas que devem ser restituídas com a maior aproximação possível. Não raras vezes, vejo tradutores usarem palavras outras que não o equivalente direto da palavra usada pelo autor no texto de chegada.
Nessas alturas, lembro-me sempre d’Os Testamentos Traídos de Milan Kundera e das suas acusações de traição aos tradutores, biógrafos e afins que, por critérios morais e ideológicos ou por preconceitos estéticos, “traíram” os escritores e artistas de que se ocuparam…
3. Adaptação do conteúdo ao público-alvo
É aqui (e noutros sítios…) que a tradução automática de per se falha redondamente… Cabe ao tradutor facilitar ao máximo a leitura do destinatário, trocar por miúdos, decifrar…
4. Restituição exata de expressões idiomáticas ou populares
Mais um problema para a tradução não-humana… Já o disse acima, os tradutores são também mediadores culturais. Ora, a compreensão, adaptação e restituição perfeitas desse tipo de expressões é fundamental. Valida o rigor e a competência do tradutor e facilita a vida ao leitor.
Conclusão
Já vos aconteceu estarem a ler um livro e questionarem uma passagem, frase ou expressão? Ossos do ofício, dirão alguns. Eu diria que, provavelmente, falhou alguma coisa no ato da tradução… O tradutor chamou a atenção…
Além dos critérios acima mencionados, acredito, cada vez mais, que a principal missão do tradutor é a invisibilidade. Quando a tarefa do tradutor interpela o leitor, algo vai mal no reino da tradução.
Alguns autores advogam que toda a tradução é, por definição, incompleta. João Barrento, por exemplo, diz que ela está e estará sempre entre, é e será sempre um ato intervalar, uma ponte, numa irreprimível vontade de ligar o separado. Contudo, o mesmo autor também demonstra que a passagem é possível (Barrento, 2001: 87).
É nisso em que, também eu, acredito: incompleta, mas possível. Possível e com um grau de qualidade acessível a profissionais que saibam acolher, pelo menos, os 4 critérios de uma boa tradução.